Os que se dizem entendidos nos mistérios da vida, dizem que alguns sonhos não são sonhos, mas viagens que nossa alma faz fora do corpo quando ainda estamos em estados semiconscientes do sono médio profundo.
Talvez por isso alguns sonhos que sonhamos não nos pareça sonho, mas uma historia vivida com começo meio e fim, e quase sempre com o proposito de deixar uma lição, uma informação ou um aprendizado.
Eu me lembro de que foi numa noite de frio do mês de junho, início do inverno no hemisfério sul, quando me deitei embaixo de alguns edredons. Por um instante após a reflexão do dia e de alguma oração inventada na hora para agradecer a Deus pelo simples fato de estar vivo, fiquei pensando em como minha alma ou talvez minha consciência objetiva pudesse sair do corpo e vagar por lugares nunca antes visto por mim.
Algumas pessoas acreditam que a consciência, que nada tem em comum com cérebro, pensamento ou estados emocionais, muito menos com alma ou espíritos, pode deixar o corpo denso ou físico e se deslocar para outros mundos, viver aventuras e depois retornar quando acordamos.
Depois dessa experiência algumas pessoas se recordam do que suas consciências viveram e outras não ou ainda podem ser que misturem as experiências vividas fora do corpo com os ícones do subconsciente gerando um emaranhado de informações quase sempre desconexas ou sem sentido. Em outras palavras, experiências confundidas com sonhos viram sonhos.
Não me dei conta de quando dormi, mas o me dei conta de que sai do corpo e por um instante pude me ver deitado sobre os edredons. Senti frio, pois estava mesmo muito frio e nesse momento “pensei” que se estava fora do corpo não poderia estar sentindo frio, pois a sensação de frio é algo sensorial. A pele envia sinais ao cérebro de que a temperatura externa está abaixo do normal e a resposta é essa sensação de frio que sentimos.
Se não tinha a pele do corpo para enviar essas informações e se eu estava fora do cérebro, não havia razão alguma para sentir frio, foi assim que o frio passou e me senti confortável fora do corpo e fora dos edredons.
Meus pés não tocavam o chão e pude perceber que a parede do quarto era só uma ilusão assim como o tempo e os espaços. Tinha a nítida sensação de poder estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Essa parte é muito difícil de descrever ou tentar explicar para quem nunca viveu algo semelhante, por isso vamos ao que sucedeu depois desse breve contato com a onisciência.
Logo depois desse inusitado primeiro impacto, já ambientado com o novo, senti que podia ir a qualquer lugar que quisesse, fosse onde fosse, aqui na terra ou em um outro planeta qualquer. Mas não tinha como controlar para onde ir. Embora soubesse que podia ir, quisesse ir alguma coisa que não posso explicar, me levou para uma cidade como essas que aparecem nos filmes épicos como cidades medievais.
Havia uma praça onde de repente eu estava a comtemplar as arvores sob a luz da lua, não havia postes ou sinais de eletrificação. Tudo estava deserto e apenas alguns cães cruzaram a rua me ignorando por completo como se a minha presença nada lhes dissesse. Nenhum avançou ou latiu. Aparentemente nem me notaram de fato.
Comecei a caminhar por uma rua estreita em declive com calçamento rustico de pedras irregulares. Não havia passeio e tão logo terminava a rua começava as paredes dos prédios de portas estreitas e janelas bem no alto, acima do que poderia alcançar com as pontas dos dedos.
Logo à minha frente uma turba de pessoas mal encaradas, vestes medievais, alguns portando espadas e outros porretes, três ou quatro com archotes para iluminar a ruela estreita e escura vieram ao meu encontro. Logo fui cercado por umas quinze pessoas com ares de poucos amistosos.
Certamente eu seria atacado na tentativa de encontrar alguma coisa em meus bolsos. Entre aqueles mal encarados havia mulheres e pelo menos uma criança que se aproximou de mim e me tomou pela mão.
Então a criança falou aos demais que a ouviram como se fosse um líder. Não entendi suas palavras mas pude sentir o que dizia e ela então dizia aos demais: - Este não é um daqui, posso sentir pelo toque em sua mão que vem de um outro lugar! – Então todos se afastaram um pouco como que assustados com aquela revelação.
Soltou-me a mão e falou mais alguma coisa que todos ouviram abismados e eu não pude compreender. Quando voltou a tocar minha mão pude entender que todos estavam admirados pela minha presença, pelas minhas vestes e até pelo que eu sentia. Então senti que a criança lhes disse que deveriam deixar que eu fosse, sem que me fizessem mal algum.
Todos recuaram como que obedientes ao menino e ele me conduziu sozinho até uma praça e me disse que eu podia voltar em paz, mas que voltasse logo, pois outros grupos poderiam me encontrar pela cidade e ele não poderia me proteger.
Nesse momento eu queria ser grato ao garoto que salvou minha pele e quiçá minha vida se é que corresse algum perigo de morte naquele lugar e naquele estado fora do corpo. Percebi que podia transferir a ele alguma coisa que eu considerava boa. Me passou pela mente transferir-lhe o gosto de um chocolate.
No meu entendimento uma criança naquele mundo tão estranho jamais teria experimentado o sabor de um chocolate. Que presente melhor eu poderia lhe dar, pensei. Mas no momento em que comecei a enviar-lhe uma mensagem que chamarei de “telepática”, um ser de luz vestido de branco, cingido por um cinto dourado, cujo rosto não podia ver, intercedeu e me ordenou que parasse.
- Não faça isso! – Ordenou com autoridade.
- Quero apenas agradecer a esse garoto que me salvou de ser agredido! – Retruquei.
- NÃO OFEREÇA AQUILO QUE NÃO POSSA DAR... De que adianta dar a ele o sabor do chocolate se amanha ele vai sentir vontade e você não estará aqui para oferecê-lo?
Ouvindo essas palavras recuei, soltei a mão do garoto e ele se foi, no mesmo instante que aquela figura de luz também desapareceu. Entendi que minha viagem para o mundo da consciência teve como proposito aquela lição. Não se deve dar a alguém o que ele jamais poderá ter e você não poderá suprir. O que nunca se teve nunca se sentirá vontade.
Era chegado a hora de volta, eu não sabia como. Pensei apenas que poderia trazer comigo uma prova de que eu estive lá. Apanhei um ramo de uma arvore e coloquei no bolso. Acordei embaixo dos edredons, sentindo frio, porque meu corpo enquanto eu “viajava” mexeu-se de um lado para o outro e acabou descoberto.
Na manhã seguinte a primeira coisa que fiz foi por a mão nos bolsos da calça na esperança de que a prova de minha viajem astral estiver lá, mas os bolsos estavam vazios, nenhum ramo de árvore foi encontrado. Frustrado por não ter nenhuma prova material segui o dia.
A noite com uma revista para ler sobre o tema “viagens astral”, estava escrito “do mundo para onde vamos em consciência nada levamos e nada trazemos senão aquilo que aprendemos”.
.......................................................................................................................................................................................................................... Antonio Emilio Darmaso Eredia EREDIA, Antonio Emilio Darmaso – Tupã/SP 25 de maio de 2013 – 16hs 10min
(Esse conto foi vivido há cerca de vinte anos aproximadamente, alguns anos após ter ingressado nos estudos da Antiga e Mística Ordem Rosacruz. O fato de tê-lo publicado agora é porque só agora reuni palavras para conta-lo – Não é ficção).Clique aqui para editar .