CONTEÚDO ADULTO COM DESCRIÇÃO DE CENAS IMPROPRIAS PARA MENORES
Se bem me lembro foi no dia 22 de Dezembro, dezenove horas, dois anos longe da família, quando decidimos deixar a cidade onde morava para passar o Natal com nossos avós em Paranavaí, Estado do Paraná. Conferimos de uma lista, antes de arrumar a mala, “duas calças Lee, camisetas, um par de sapatos e um de tênis, meias, duas toalhas, produtos de higiene e algumas caixas de Ola coloridas”. Obviamente só não constava da lista pentes, escovas, lâmina de barbear e cuecas. Nisso se resumia tudo o que um jovem nos anos setenta carregava em viagens e tudo o que precisava para ficar uma semana ou mais longe de casa. Mala fechada e acomodada no banco traseiro do carro, uma porção de fitas de musicas paraguaias e lá fomos nós, cavaleiro errante a outras pragas, sem nos preocuparmos com a previsão do tempo que ameaçava chover. Em casa verde, depois de já ter ouvido todas as fitas de musicas paraguaias, o sono bateu e bateu forte. Recordamos de uma receita dada por um policial rodoviário há muitos anos: “-se der sono tome uma dose de conhaque misturado a uma xícara de café!” - Se fosse hoje, sete pontos na carteira, um processo no fórum e novo exame para dirigir. Dia 23 de dezembro, já de madrugada avistamos as luzes de Paranavaí. A nossa retaguarda a orla rubra criava uma paisagem surrealista contrastando com o céu à frente de um cinza escuro e nuvens carregadas. Atravessamos alguns semáforos que insistiam em ficar na luz vermelha toda vez que nos aproximávamos do cruzamento (e põe cruzamento nisso já que em alguns deles até sete ruas convergem para um mesmo ponto) e, em fim, chegamos. Em outros tempos, a essa hora da manhã, nossa querida avó já estaria com a mesa posta, leite, café, pão feito em casa, manteiga amarelinha e queijo frito na chapa do fogão a lenha. Mas há anos que ela nos deixara vitima de um câncer no pulmão. Desligamos o carro em frente ao portão e esperamos pelos primeiros movimentos dentro de casa, o que só aconteceu depois de umas duas horas cochilando. Fomos recebidos como que para uma grande festa. Não sabíamos, mas meu pai e minha mãe que moravam em Tupã, também estavam lá. A família toda, com certeza estava reunida e chegamos quando ninguém nos esperava. Do outro lado da rua, em uma das casas, morava uma antiga vizinha, amiga de infância. Mãe é sempre mãe. Veio nos falar que aquela garotinha, já era uma moça formada, linda e formosa e, que chegara de Curitiba, onde fazia faculdade. Certamente as impressões de mãe não contam nessa hora, até porque passados dos vinte e cinco anos de idade já nos queria casado e com filhos enquanto isso nem sequer passava pela nossa cabeça. Por falar em nós, só o que nos interessava que a garota fosse de preferência disponível, ou sem o namorado a tiracolo. O efeito do café com conhaque passou e o sono bateu novamente, mas desta vez podíamos dormir. Nada melhor que uma cama com colchão macio e lençóis perfumados e, dormir, foi o que fizemos naquele final de tarde. À noite quando acordamos, nos contaram que a garota, amiga de infância, esteve ali a tarde toda enquanto roncávamos como um capado gordo. - Que se dane! – foi o que pensamos com um leve toque de frustração. A noite estava só começando. Podíamos sair, encontrar os amigos e cair na gandaia. Em tempos mais recentes diríamos que “a noite é uma criança”. Ledo engano. Os amigos, na maioria já casados, gordos com suas esposas e filhos. Uma ex-namorada veio apresentar os netos. Acabamos a madrugada em volta de uma mesa de bilhar e um monte de latinhas de cerveja. Dia 24 de dezembro, meio dia, se havia uma mulher bonita no mundo estava li, do outro lado da rua. Morena, cabelos longos, esbelta, alta, olhos verdes e curvas que não se podia fazer a mais de sessenta por hora. Derrapar numa curva daquelas levaria qualquer motorista, por mais experiente que fosse, se perder para sempre nos precipícios da paixão. Não era oportuno atravessarmos a rua e arriscar uma abordagem. O bafo de Jibóia conspirava contra tudo e contra todos naquele momento. Algumas horas mais tarde, depois que todo o álcool da noite evaporou, depois que um bom e demorado banho tirou os efeitos da borrasca (nada de perfumes só o cheiro de macho, mas de macho asseado) chegara o momento certo para a abordagem. Pensamos que, desta vez nossa mãe estava no caminho certo em nos empurrar pra cima da vizinha, mas algo em sua descrição não combinava. Na hora do jantar, ela nos disse que a menina era loira, não muito alta e de cabelos curtos, e a que vimos, de beleza estonteante, era morena, alta e de cabelos longos e ondulados. Não podia ser a mesma pessoa. E de fato não era. Nosso saudoso tio Hilário, que Deus o tenha porque já se foi há mais de dois anos, sai na varanda com sua “acordeona de cento e vinte baixos”, e soltou logo de cara um “Chote limpa banco”. Foi o suficiente para atrair toda a vizinhança. Não demorou muito para que cinqüenta ou sessenta pessoas se aglomerassem entre parentes, amigos e pessoas que eu não conhecia. Um coronel que gostava de musicas e era fã numero um desse nosso tio, mandou que pusessem duas placas interditando a rua e “o pau derrubou a folha”. Um apareceu com um litro de Whyski, dizendo ter importado do Paraguai, outro apareceu trazendo um barril de chope, cervejas de garrafas e de lata entregavam a todo instante e... Brincando no salão (quer dizer rua) a estonteante beleza. Nosso problema era a abordagem. Todo amante sabe que ou se perde ou se ganha uma garota nas três palavras seguinte depois do “Olá!” e na maneira de olhar. Se olhar interessado é meio caminho andado para ouvir um sonoro não. Embora, se perdesse a cantada, ainda restaria a vizinha, aquela de quem nossa mãe tanto falou. A melhor abordagem é falar de algo atual, interessante e que por certo a garota possa estar interessada. Naquele momento, dançando o melhor seria falar da musica e do meu tio. Foi assim: - Adoro esse meu tio. Por mim ele já teria gravado...! - Seu tio. O sanfoneiro é seu tio? - Ele sempre quis me ensinar a tocar sanfona, mas sem nenhum talento prá musica acabei como desenhista. - Ah! Então é uma família de talentos. O tio músico e o sobrinho desenhista. Não precisamos dizer que os pelos arrepiaram. Tínhamos a garota no papo. De vez em quando ela rodopiava ao som de um vaneirão enquanto, pelas costas, aproveitávamos para um rápido olhar em suas belas curvas. Rápido para que não percebesse o quanto estávamos interessados. As mulheres nunca podem perceber que você a está comendo com os olhos. Alguém passou trazendo umas taças de vinho e ela, pelo visto, o apreciava muito, pois bebia uma taça após da outra e tivemos de acompanhá-la. Depois de umas três ou quatro taças um sorriso inebriante, adornado por duas carreiras de dentes alinhados e brancos passou a dominar em seu rosto, tornando-a ainda mais atraente. Foi aí que as nuvens carregadas brindaram a todos com uma chuva leve e refrescante. Poucos procuraram abrigo, mas a maioria ficou ali se deixando molhar. A morena pediu licença e foi recolher-se, mas não disse “até logo” ou “amanhã nos veremos” qualquer coisa assim, por isso ficamos dançando sozinhos ao som do acordeom e no ritmo da chuva. E a morena voltou e quando voltou agarrou-nos pela cintura e saímos pulando ao som de “Mamãe eu Quero”. Nessa hora da madrugada tocando com nosso tio tinha se juntado outros, no reco-reco, um surdo, dois bumbos, um cavaco e um pandeiro. A madrugada daquele Natal, começava em ritmo de carnaval. A morena então cochichou em nosso ouvido: - quando o deixei queria fumar um cigarro, mas o meu acabou, você não me leva comprar...? – Tamanha foi a surpresa que paramos de pular para reorganizar as idéias. - Voce está dizendo...? - ...Deve ter algum bar aberto onde eu possa comprar cigarros! - Bom, só indo até o centro pra saber... – vamos? E lá fomos nós, de rua em rua, de esquina em esquinas, auto-posto, farmácias, rodoviária. Nada aberto. Só faltava um lugar. A zona do meretrício. Alí, com certeza, encontraríamos cigarros, pelo “olho da cara”. Não queria sugerir, mas deixar que ela decidisse por ir até lá, por isso, em tão de brincadeira apenas aventamos essa possibilidade e ela topou. -É verdade. Toca pra zona. Um bêbado estirado na lama, uma mulher semi-nua namorando escandalosamente na varanda, um bicha que se aproximou assediando-nos a entrar no recinto e finalmente uma casa de bom aspecto. Luz vermelha na varanda e luz negra na sala. Tudo calmo e se não fosse as luzes, diríamos se tratar de uma casa familiar. A chuva já estava bem mais intensa, raios, relâmpagos e um vento forte balançava o carro. Paramos em frente a essa casa, sob os olhares de duas ou três mulheres sensuais, ricamente vestidas. Uma de aparente mais idade, saiu para dizer-nos que estavam fechando. - Olha, só queremos um maço de cigarros! - E uma xícara de café bem quente se tiver! – Disse a morena, emendando à nossa fala. A mulher, com aparente mais idade, entrou e logo em seguida retornou com um guarda-chuva e um maço de cigarros. Entregou-nos e disse: - Sinto pelo café, ainda não está pronto, mas se quiserem esperar, posso fazer um agora mesmo! Olhamos um para o outro e vi que ela sorriu. Descemos do carro e entramos naquela casa de tapetes coloridos, cortinhas rendadas e almofadas para todos os lados. Ali se reunia para noitadas a elite da cidade. Políticos e toda sorte de autoridades. - Gostaria de um dia... pelo menos um único dia... me sentir assim...! - Assim como? – perguntei à morena. - Como uma puta! – Ela respondeu. Pasmem com isso. As moças riram enquanto engolíamos seco. A segunda surpresa do dia. Aquela de mais idade voltou trazendo duas xícaras de café para cada um, em uma bandeja de prata. Um café delicioso. - Eu ouvi o que você disse moça, se quiser temos uma cama para o casal de pombinhos. Até aí tudo normal. Só uma brincadeira. Mas a morena queria de fato sentir-se “puta por um dia”, e quando olhou-nos com aquele olhar de “quero agora” por pouco não nos engasgamos com o café quente. Por instinto, a tomamos no colo e entramos no quarto a meia luz sob os olhares e sorrisos maliciosos das moças da casa. Nas paredes enormes espelhos refletiam nossas imagens em todas as direções. Um suave perfume pairava no ar. A cama redonda coberta com uma colcha de cetim vermelho e pétalas de rosas para todos os lados e na parede, do que seria a cabeceira, um par de argolas estrategicamente fixadas. No criado mudo uma garrafa do melhor Champagne Frances imersa em cubos de gelo. Duas taças longas de fino cristal cruzadas em meio aos dois travesseiros dava o requinte final. Sobre um dos travesseiros uma mascara preta e um chicote, e no outro um par de algemas. Difícil foi tirar a roupa molhada, descobrir aquele corpo de pele sedosa, sem marcas, todo bronzeado. -Me bate! Vai... Me chama de vagabunda... Diz que sou gostosa... Temos de confessar, foi chocante atender aos apelos daquela deusa do amor, mas ao entrar no clima, tudo saiu como imaginávamos. Só a parte do chicote que não nos agradou muito no inicio, mas depois... Um pouco de dor revelou algo excitante que jamais tínhamos experimentado. Não somos versados em sadomasoquismo, mas sinceramente, hoje ao lembrar ficamos com saudades. Bom mesmo foi a parte das algemas... –Eh! Eh! Deixa prá lá. Tem emoções que perderiam a graça se as descrevêssemos com o máximo de detalhes (mas recomendo). Foi o dela e também o nosso melhor presente de Natal. Quando chegamos em casa, depois de tomar o café matinal na zona em meio àquela trupe de mulheres divertidas, o sol já estava a pino. Cada um direto pra sua casa, antes que alguém indagasse por onde andávamos. Por sorte todos ainda estavam dormindo. Dia 25 de Dezembro, final da tarde. Um carro enorme parou na frente da casa da vizinha. Era um carro preto de vidros escuros. Um homem de meia idade desceu e a morena foi logo encontrá-lo. Pela diferença de idade pensamos até que fosse seu pai, mas não. A noite ela o nos apresentou como sendo “seu marido”. Nosso quarto e ultimo susto.
No dia seguinte jogamos nossa mala no banco trazeiro do carro e saímos de Paranavaí, rumo a Tupã, trazendo uma dorzinha gotosa no corpo, os pulsos ainda vermelhos por causa das algemas e as lembranças inesquecíveis de uma noite de Natal.
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