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Naquela época as estradas que ligavam o Mato Grosso ao Paraná ainda eram de terra batida. Um ônibus, talvez não tão velho, mas carcomido por percorrer dia após dia aquele mesmo trajeto, ora lamacento, ora empoeirado e cheio de buracos, era o que eu tinha no momento para viajar. Havia deixado o carro, um fusca 1979, em uma oficina num distrito próxima a Paranavaí. Precisava pagar o conserto e retira-lo, antes que o mecânica o vendesse como sucata. E foi assim, com meu espírito de aventura que pensei e decidi seguir de ônibus - serão apenas quatro horas de desconforto e nada mais -pensei - logo estaria rodando no asfalto limpo e respirando o aroma das flores dos cafezais paranaenses, rumo Paranavai e depois à minha casa. Subi no ônibus que fedia a galinheiro e, com muito jeito para não pisar nas galinhas que meu companheiro de banco levava em um saco a seus pés, acomodei minha bagagem no porta treco feito de tiras de couro logo acima de nossas cabeças. O motor roncou forte exalando cheiro de óleo queimado que inundou toda a cabine e, o coletivo, saiu de ré como um cisne flutuando num lamaçal de terra vermelha, já que naquela tarde choveu muito em Dourados. Ao engatar primeira, uma raspada, talvez o motorista não fosse tão bom. Seguimos ganhando a estrada enlameada. Tentei conversar com meu companheiro de banco, a conversa certamente abreviaria as horas de sufoco, mas ele ignorou minhas palavras, ajeitou o saco com as galinhas e se recostou na poltrona fechando os olhos como quem dissesse: - me deixe dormir! O calor e o cheiro de suor, da fumaça de cigarros de palha e das galinha eram insuportáveis, mas como ainda chovia ninguém queria abrir as janelas, a assim fomos, parando aqui para deixar um passageiro, parando ali para pegar outro na beira da estrada, noite adentro até chegrmos a um povoado emergente, uma cidadela de casas de tábuas cobertas de sapé de nome Naviraí. Por sorte nessa cidadela, o meu companheiro de banco desceu com as fétidas galinhas. Pensei: - só me falta ocupar o banco do meu lado um bêbado ou um desses caras que não param de comer biscoitos. Mas, ninguém mais alem dela veio em nossa direção. A deusa Vênus, estava do meu lado e sabia o quanto sofri até chegar ali. Destoando de todos os tipos que já tinha visto subindo e descendo do ônibus ao longo da estrada, me entra uma morena - e que morena - cabelos longos até a cintura, quadril largo e seios fartos. Vestia um sobretudo de fino couro marrão e trazia uma grande sacola com uma manta de chenile entre as alças. Entrou, parou no corredor e olhou para todos os bancos vagos. Em pelo menos dois terços dos bancos não havia ninguém. Ela chegou do meu lado e perguntou: - Está ocupado? Confesso que cheguei a dizer sim, quando queria dizer não, tão conturbado ela me deixou. Minha cabeça deu um rodopio, e corrigi com a voz embargada: - Não, não! Quero dizer, não está ocupado, por favor! - pus-me de pé para que ela pudesse passar para o banco ao meu lado do lado da janela. Ela sorriu vendo-me embaraçado. Tentou colocar a sacola com a manta no porta treco, mas como eu tinha posto ali a minha bagagem, não conseguiu da primeira vez, por isso me apressei em auxiliá-la, já que o ônibus entrara em movimento e ela poderia desequilibrar-se e sofrer um acidente. Tirei a sacola de suas mãos e a coloquei no porta-treco. Ela sentou-se no banco do meu lado e cruzou as pernas. - Que pernas - por baixo do sobretudo três quartos da coxa sobressaía a partir de uma mini mini-saia vermelha, dando-lhe um toque de sensualidade (e sexualidade) que jamais eu poderia esperar ver num lugar como aquele. Seu perfume, que ainda hoje sinto ao relembrar, deu-me vontade de avançar sobre ela e “come-la” (literalmente). Agradeci mil vezes à Deuza Venus, por colocar em minha viajem aquele pedaço de bom caminho. Mas, por traz daquela beleza estonteante, os seus olhos eram tristese lagrimejantes. Ela empurrou o vidro da janela e olhou para fora e eu pude ver que duas crianças lhe acenavam dizendo adeus. Pude ver também que duas lágrimas escorreram de seus verdes olhos, que ela as apararou com o dedo para que não escorressem pela face borrando a maquiagem. Aquele era um momento só dela – pensei – e eu não poderia, jamais, interferir. Mesmo que imbuído das melhores intenções, contive-me do ímpeto de consola-la. Como as lágrimas não se continham ela procurou por algo que servisse para enxuga-la. Um lenço talvez em sua bolsa no porta-treco. Fez mensão de levantar-se, mas essa era a oportunidade que eu tinha para ser-lhe solidário. Era a oportunidade que eu precisava para iniciar o contato e ofereci-lhe o lenço. Por sorte, nesse dia eu portava um lenço, coisa rara em meus bolsos, tal como dinheiro (professor já viu). Para quem se lembra, naquele tempo era comum que rapazes tivessem no bolso um lenço, um pente, um espelho redondo com a foto de uma mulher pelada e uma caixa de pastilhas Valda ou Gin Tan. Eu, por um milagre da Deuza, tinha um lenço. Oferecei-lhe. Dois dedos delicados pousaram sobre minha mão e foi aí que eu ouvi sua doce voz num “obrigada”. A mais doce e sexi “obrigada” da minha vida, confesso, ficou ecoando em meu cerebro artudido. Seguimos viajem e, por cerca de uma hora, ela não sorriu, não chorou e também não disse uma só palavra. Ficou o tempo todo olhando pela janela, perdida na escudirdão da noite e nos últimos respingos da chuva. Já não estava tão quente e as nuvens de chuva davam lugar a uma lua cheia de luz intensa e prateada iluminando o cerrado. Devia ser por volta das vinte e três horas quando o ônibus parou na travessia do rio Paraná, para esperar a balsa que fazia a ligação entre os dois estados. Esperaríamos ali por cerca de uma hora ou mais, já que a balsa estava na outra margem e teria de retornar levando aproximadamente todo esse tempo. Pela Deusa - acreditem - não pedi por isso, mas ficar esperando pela balsa era milagre demais para uma noite. Foi aí que pude me aproximar, fazendo ar de timidez, para trocar com ela as primeiras palavras. Iniciamos uma conversa informal. Mesmo tendo deixado espaço para que ela me contasse um pouco da sua recente historia e os motivos das lágrimas, nada me disse, nem inisisti que me falasse. Ela, num dado momento, olhando para as pequenas ondas do rio, ficou toda admirada quando um peixe saltou na água refletindo suas escamas douradas na luz da lua. Muitos outros peixes pularam e a cada pulo que davam, ela sorria como criança. Conversa vai, conversa vem, atravessamos o rio na balsa já de mãos dadas, rindo e procurando por peixes que saltavam. Quando a balsa atracou deu um solavanco desequilibrando-a. Com a desculpa de apara-la, aproveitei apertando-a contra o meu corpo. Senti seus seis tocando em meu peito. Eram firmes. Quase perdi a respiração quando olhei para dentro de sua blusa semi-aberta e ela, deu um sorriso e não se importou que eu demorasse alguns segundo admirando-os sem disfarçar meus desejos. Dali em diante a viajem seria mais tranqüila e o nosso contato mais íntimo e quente. Haviam recém inaugurado o asfalto do Porto São José até Paranavaí, além disso, só ficamos eu, ela, o motorista e o cobrador. Os outros passageiros desceram em Porto São José. Ela me pediu que retirasse a manta da maleta. A temperatura estava agradável e não entendi porque ela queria a manta. Atendi, pois não me cabia questionar e ela, usou a manta para nos cobrir, depois olhou para o cobrador e me perguntou baixinho: - dormiu? – Sim, dormiu! – respondi igualmente baixinho. Ela sorriu e se aproximou quase que tocando seus lábios nos meus – isso me deixa excitada! – O que, ficar assim pertinho ou... – Estar num ônibus com um cara desconhecido e um cobrador dormindo e que poderá acordar a qualquer momento e nos pegar no flagra! Sua voz sensual penetrando em meus ouvidos causou uma imediata reação e meu falo fiocu duro e saltitante. - Por que o cobrador nos pegaria no flagra se não estamos fazendo nada de...?- Engoli seco e quase me faltou ar nos pulmões quando suas mãos tocaram minhas “partes íntimas”. Ela se abaixou e enfiou a cabeça por debaixo da manta e vagarosamente descerrou o zipper da minha calça Lee. Suas mãos eram quentes assim como também quente era a sua boca. Perdoem-me, mas é uma pena que eu não possa dar aqui todos os detalhes. Imaginem o que quiserem, deixo à imaginação de cada um, mas, com certeza tudo o que imaginarem será pouco em relação a tudo o que aconteceu. Quando ela virou a bunda para o meu lado e se posicionou d eum modo que podia ser penetrada... bom... Uma coisa eu garanto: num ônibus é muito, mas muito melhor, que em um elevador. Se quem escreveu o "Ultimo tango em Paris" soubesse desta hintoria, teria descrito a cena em um onibus, com certeza. Quando terminamos perguntei seu nome e ela disse: - Não importa. Um nome agora só estragaria tudo. E a viajem que eu não queria que terminasse, chegou ao fim. Meu ponto de desembarque era em Paranavaí, minha cidade de destino e ela teria de fazer baldeação e seguir em um outro ônibus para uma cidade mais a frente, quase na fronteira dos dois estados. Esperei que embarcasse. Ela abriu a janela e acenou para dizer adeus. Mandei-lhe um beijo como ainda fazemos nos dias de hoje. O coletivo deixou a estação desaparecendo na esquina da rua. Ficou o perfume e a saudade. Enquanto o ônibus se afastava da rodoviária, ela sorriu e me disse: - Sou bibliotecária. Trabalho na biblioteca municipal de... (não posse dizer a cidade – sinto muito). Amanheceu o dia, peguei meu fusca, parei para abastecer e comprar algumas fitas - adoro musica orquestrada. No dia seguinte, final da tarde, depois que saí de Paranavaí sonhando com a morena de olhos verdes - minha bela bibliotecária - cheguei no trevo da cidade que não possso dizer o nome. Depois de alguns segundos de exitação, desci entrar. Não era uma cidade de muitos habitantes e por certo todos se conheciam. Logo me informaram que ali só havia uma biblioteca. Com o coração batendo a mil parei na entrada daquele prédio, suspirei fundo e entrei caminahndo pelos corredores de prateleiras repletas de livros. Não havia ninguém, exceto ela, a morena, olhos verdes, seios fartos e o perfume inconfundível que inundou minha alma. Olhou-me como se eu não estive ali, e continuou arrumando os livros nas prateleiras. Colocou alguns e retirou outros do lugar. Sorri para ela e disse - Oi! - Mas nada. Ela olhou para mim como se não soubesse quem eu era. - Deseja alguma coisa? Perguntou, como perguntaria a um estranho qualquer. Um frio percorreu minha espinha. - Estaria eu sonhando com uma fantiasia que nunca aconteceu? -Não, -eu disse- apenas passei por aqui para encontrar uma pessoa que pensei ter conhecido ontem numa viajem de ônibus. - E essa pessoa... trabalha aqui? - Sim... quer dizer, não. Creio que não! - Com licença - disse ela - preciso guardar estes livros. E passou por mim, embriagando minha alma com seu inconfundível perfume. Obsevei em seu dedo da mão esquerda uma aliança. - Ah! Bonita sua aliança! Quanto a mim fui embora levando dentro de mim só o perfume daquela linda mulher, que até hoje, só de lembrar, me dá vontade de comer. Seu nome nunca soube nem saberei, por isso a ela me refiro apenas como a Bibliotecária.