As coisas acontecem por acaso ou tem um proposito traçado quando do nosso nascimento. Essa é uma questão que desafia a compreensão humana desde a muito tempo. Filósofos tem se debruçado na busca de respostas e muitos são os que se aventuram a defender outras teses sem sucesso. Se por um lado tem os fatalistas que acreditam na predestinação, do outro os céticos materialistas, acreditam que as coisas aconteçam por nossa vontade e determinação. Opino que nem um e nem os outros têm razão. A realidade da vida nos mostra que as duas teorias, isoladas até justificam, mas não explicam. Na maior parte dos acontecimentos se dissolvem no insucesso.
Quanto a essas teorias conheço pouco, mas o que posso arriscar é que, tenho me aliado àqueles que afirmam que a vida flui como somatória de todas. Se algumas coisas acontecem por acaso as outras somos os protagonistas. Sei lá. – Pode ser até que, pelo caminho, as coisas vão acontecendo conforme construímos nossos passos, assim como, chegar num baile e a musica já está tocando, escolhemos ir ao baile, mas não escolhemos a musica para dançar, apenas dançamos por termos decididos ir ao baile.
Se dançar é ou não resultado da nossa decisão de ir ao baile eu não sei, não posso dizer, mas sei que coisas acontecem de forma a nos deixar pensar que entre uma decisão que tomamos e um fato posterior tem lá a mãozinha do acaso sim senhor!
Um desses fatos correu quando retornava da cidade de Lucas do Rio Verde, Mato Grosso.
Eu vinha dirigindo uma caminhonete D-20 ano 95 toda reformada, com mais dois companheiros. Um deles, o mais impaciente, insistia para que eu apertasse o acelerador nas ultrapassagens. Mas qual, eu já estava com o pé fincado até onde o pedal do acelerador podia chegar e o motor não respondia. Algo estava acontecendo de errado, talvez fosse a bomba injetora. Sim, porque foi revisada e ajustada, por isso deveria responder imprimindo aceleração e dando maior velocidade ao veículo.
Nos aclives a velocidade caia tanto que podíamos ser facilmente ultrapassado por um trator. Assim viajamos por cerca de quatro horas até o trevo do posto do Gil, onde um pouco antes fica o entroncamento Sinop, Diamantino, Cuiabá.
Uma fila enorme de caminhões e carros se estendia até onde as vistas podiam alcançar. Fomos obrigados a parar por causa de um acidente entre duas carretas na descida da serra, então de pista simples.
Ficamos ali parados por mais quatro horas e a fila atrás de nós aumentando. Já se estimava um congestionamento de mais de trinta quilômetros. Dezoito de onde estávamos até o local do acidente. Decidimos arriscar pela contramão até chegar ao trevo que dá acesso a Diamantino, quando já estava bem escuro.
Decidimos passar a noite em Diamantino, num hotel e seguir pela manhã quando a pista já estivesse totalmente liberada. A uns duzentos metros depois do trevo fomos obrigados a parar. Embora a estrada fosse plana, a dita caminhonete perdeu pressão e afogou. Um motoqueiro, vendo que estávamos com problema se ofereceu para levar um de nós até a oficina mecânica, mas o Rubens disse que ele mesmo daria um jeito porque sabia onde estava o defeito. Passa de nove da noite quando o Rubens fez o motor funcionar. Alegres, com os dedos sujos de graxa, embarcamos na caminhonete e rumamos para Diamantino.
Não rodamos mais que cinco quilômetros e lá vem o problema da injetora de novo. Nada do que tinha sido feito adiantou. Foi impossível fazer o motor funcionar. Ficar ali representava passar a noite mal acomodados na cabine. Decidimos que eu e o Durval iríamos até o posto Gil, e mandaríamos um mecânico pra resolver o problema.
Desta vez era grave, pois alguns parafusos que não foram devidamente apertados se soltaram, causando a perda de pressão, esparramando óleo para todos os lados e desregulando tudo. Por mais que tentássemos nossas ferramentas não eram adequadas.
Saímos então a pé em busca de socorro. Pegar uma carona nem pensar, nenhuma das pessoas já avisadas do acidente se aventurariam a sair de casa para esperar numa fila de carros que só começaria a andar vinte horas mais tarde. Isso se tudo desse certo com o trabalho do guincho para remover as duas carretas envolvidas no acidente.
Com certeza não passaria uma viva alma por aquela rodovia até o dia seguinte, então decidimos ir a pé até a oficina mecânica que ficava a pouco mais de cinco quilômetros.
O Durval, de setenta e quatro anos estava acostumado a andar, enquanto eu não sabia se aguentaria todo o trajeto, mas tinha de fazer-lhe companhia. Quase duas horas mais tarde e uma bolha no calcanhar chegamos ao posto do Gil.
Por sorte o mecânica estava ainda com a oficina aberta quase onze horas da noite. Foi prestar socorro a um outro veiculo e retornara naquele instante. Durval decidiu voltar para indicar onde estava a caminhonete. Montou na garupa da moto, segurando a caixa de ferramentas com uma das mãos e se segurando com a outra, foram embora e eu fiquei com os pés em frangalhos.
Voltar a pé mais de cinco quilômetros, para mim era algo fora de cogitação.
A uns duzentos metros do outro lado do rodovia vi que havia uma pensão, creio que a única por ali. A pintura verde desbotada pelo tempo, o barrado vermelho de tinta a óleo ate a metade da parede carcomida e as bucólicas lâmpadas amareladas, para quem estava com os pés doloridos e cansado, dava até um aspecto aconchegante e agradável.
Mesmo nessas circunstancias dormir num ligar desses, só tomando umas dez latinhas de cerveja e olha lá.
Do lado em que eu estava a uns cinquenta metros, uma vendinha estreita com uma única porta entreaberta escondia uma geladeira de bebidas. Uma enorme coletânea de bugigangas dependuradas no teto e pelas paredes e, atrás do balcão uma senhora de aparentes trinta anos lia ou olhava uma revista de mulheres peladas.
Nesses chamados por ali de boliches pode-se comprar de tudo, de óculos de sol por vinte reais até pneus de carro de cento e noventa por trezentos reais. Fui até lá para comprar cerveja. A ideia era pegar uma meia dúzia de latinhas e tomar todas no quarto pra relaxar, depois dormir.
Assim que entre e a cumprimentei ela sorriu. Mostrei-me interessado pela revista e ela se se levantou e me mostrou umas das modelos, tecendo alguns comentários quanto aos pelos pubianos totalmente removidos.
- Que nada! – respondeu ela – a minha é aparadinha sim, mas tem os pelinhos. Só depilo um pouco nas virilhas pra usar biquine!
- Tem quem gosta com pelos, tem que gosta sem pelos.
Fui até a geladeira, mas ao invés de pegar meia dúzia, peguei uma latinha só. Só tinha uma marca desconhecida da qual não sou muito fã. Enquanto isso uma mulher entrou para comprar cigarros. Voltei para o balcão e mudamos de assunto.
É ai que entra o chapéu. Ao lado da porta onde parei para degustar a geladinha, estava um cabideiro com uma porção de chapéus de todos os modelos e marcas. O que me chamou atenção foi esse ai feito a mão, no maranhão, de couro da barriga do bode.
- Senhora, quanto custa este? – perguntei.
- Senhora não... Não sou casada e, quer saber, sou quase virgem. Esse ai eu posso fazer “para o senhor” duzentos reais. Fica com esse, você ficou lindo usando ele na cabeça!
Pensei que se não o usasse na cabeça usaria onde? Mas não tinha motivos para ofendê-la, então me limitei a dizer-lhe - Não, obrigado, é muito dinheiro!
Quando fui buscar a segunda latinha, perguntei se ela mostrava aquela revista de mulheres nuas para todos os clientes da loja. Ela disse que não. Apenas a mostrou para mim porque me achou simpático e charmoso.
Na terceira latinha estávamos sentados conversando sobre quase tudo, em espacial a vida dela desde quando veio do Maranhão para o Mato Grosso. Do namorado que não gostava de sexo e do filho que ela teve mas precisou dar para uma família de posses para que tivesse uma vida melhor.
Na quinta latinha achei que era hora de ir para o quarto e dormir até o dia seguinte. Afinal seriam mais mil e quinhentos quilômetros até a minha cidade. Tínhamos pelo menos um dia e meio de estrada pela frente.
- Quanto foi aqui, “senhorita”?
- Pode me chamar de senhora, não ligo mesmo. Foram cinco né, então dá vinte reais!
Tirei uma nota de cinquenta reais, a única que tinha no bolso, pois a carteira estava na mala e a mala na caminhonete.
- Tem troco não seu moço. A essa hora da noite não guardo dinheiro no caixa, já foi tudo pro banco!
- E o troco como fica?
- Posso falar mesmo, como você pode pegar o seu troco? – e sentada como estava cruzou as pernas e puxou o vestido que já era curto, deixando expostas aquelas coxas morenas douradas. Conheço esse truque e não estava nem um pouco interessado, por isso parti para uma piada do tipo, ria primeiro porque depois não tem graça.
- Sim claro, pode falar, mas se for pra me oferecer mais cervejas, juro que não aguento nenhuma a mais!
- Você pode ficar com o chapéu no valor do troco ou... me leva pra dormir com você!
Passado da meia noite, cinco latinhas de cerveja no coco e uma “senhorita quase virgem” me dando uma cantada em pleno sertão mato-grossense. Senti que podia estar ouvindo demais sob o efeito do álcool ou estava mesmo sendo cantado para uma transa ao preço de trinta reais.
Por uma noite até que o preço estava razoável, considerando que, por hora, em Cuiabá algumas cobram trezentos reais ou até mais. Só precisava pechinchar na camisinha, se vinha incluída no preço ou não.
Mas foi ai que olhei para os pés da dita. Ela tinha a unha dos dedões, apontando para o leste e a outra para o oeste, o esmalte verde cintilante e o terceiro dedo pelo menos uns dois centímetros maior que os outros, sem contar joanete e uma aranha tatuada no peito do pé. De resto, tirando um pouco de barriga, até que sobrava duas belas coxas, um par de bunda ajeitados e dois seios de fazer inveja a muitas dessas volumosas que aparecem em programas de televisão.
- Fazer o que? – Se deixasse para receber o troco no dia seguinte quem sabe jamais o receberia e se pedisse para pagar a conta no dia seguinte, certamente ela não concordaria. Tinha de encarar uma das duas alternativas. Ficar com o chapéu ou uma noite olhando para aquelas unhas verdes cintilantes...?
Fazer o que? - Fiquei com o chapéu!
Mas não termina aqui essa historia. Ela guardou o dinheiro e eu peguei o chapéu. Fui olhar no espelho se ficava bom em mim, creio que ficou bom sim, lindo como disse ela, afinal é um exótico chapéu maranhense de couro de bode.
Creio que fosse por volta de uma hora da manhã quando os meus dois companheiros chegaram e fomos dormir. Apresentei a eles a senhorita quase virgem e o Durval já ficou todo eriçado. O Rubens, que não é nada discreto, acintosamente comeu a mulher, com os olhos, ali na nossa frente. Fomos para os quartos. Agradeci pelas cervejas, pelo chapéu e pelas outras ofertas.
No amanhecer do dia a pista foi liberada e os caminhões começaram lentamente a descer a serra e nós fomos embora. Rodamos aquele dia e prosseguimos a noite. No amanhecer por votla das nove horas estávamos perto de Aguas Claras, quando um outro acidente ocorreu e interditaram novamente a pista.
Minha sorte foi ter adquirido aquele chapéu. O sol estava de rachar mamona e se não fosse o maranhense, a pele do meu rosto teria virado torresmo.
O que não contei aos meus amigos é que naquela madrugada, enquanto eles dormiam, por volta das duas horas da manhã, estava eu ainda matando pernilongos com a toalha quando bateram na porta do quarto. O calor estava demais e pelado, então enrolei a toalha na cintura, dei um nó e fui atender.
Podia ser alguém de um dos quartos ao lado, reclamando do barulho de “toalhadas”, afinal fazia mais de meia hora que eu estava guerreando com eles, atacando-os com uma tolha de rosto, atingindo as paredes na esperança d acabar com aqueles infernais “zumbideiros”. Não era ninguém reclamando do barulho, era ela, a moça "quase virgem" que que me vendeu o chapéu.
Estava mudada, toda bonitona, perfumada. Uma tentação "quase virgem". Como eu disse, algumas coisas acontecem por acaso, mas outras só acontecem quando atuamos a favor.
Não pedi para parar naquele ermo de estrada, paramos por causa do acidente e do problema na injetora da caminhonete. Decidimos ir ao posto do Gil, a pé, buscar socorro, mas não decidi ter a bolha no pé, decidi ficar por ali e pernoitar naquela pensão da beira da estrada, mas não decidi encontrar alguém. As pessoas não se encontram por acaso, mas é no acaso que elas se encontram. Não decidi levar aquela mulher pra dormir comigo, mas ela decidiu por mim.
Olhei para os pés dela e ainda estavam lá as unhas apontando uma para cada lado, o esmalte verde cintilante, o joanete, a aranha e tudo mais. Afinal, detalhes apenas, mas não para um pedólatra como eu...
Percebi que por baixo da camisa os seus seios estavam livres e soltos, duros e com as pontas entumescidas. Seu corpo exalava um cheiro agradável de quem acabara de sair do banho e sua boca parecia uma suculenta cereja pedindo para ser comida.
Com um suave toque a porta se fechou separando eu e ela, do resto do mundo.
Suas mãos quentes escorregaram por entre a toalha e minha pele e senti o nó da toalha desatar, a toalha afrouxou e caiu, ali fiquei, em pé, enquanto ela se abaixou e tocou em mim com uma sensualidade nunca experimentada antes e sua boca era quente e úmida. Sua língua se movia suave e firme como uma serpente...
22 de setembro de 2012 – 01hs Autor: Antonio Emilio Darmaso Eredia Esta é uma obra de ficção e qualquer nome ou local identificado com pessoas é por mera coincidência.